segunda-feira, 12 de abril de 2010

Causos e Contos - ANALISTA DE BAGÉ























"Quem conta um conto aumenta um ponto."
Mas esse não parece ser o caso do Analista de Bagé.
O Analista de Bagé é um personagem de contos de humor criado por Luis Fernando Verissimo que criou fama e ficou "mais comentado que vida de manicure". Representa um gaúcho, psicanalista supostamente freudiano de linha ortodoxa, divertido, rústico, levemente alucinado, de tiradas geniais de expressões regionais e ilustrativo da sabedoria popular do Rio Grande do Sul. Sua recepcionista, "mais prestimosa que mãe de noiva", Lindaura (segundo ele também, "uma recepcionista eclética, pois recebe e dá"), auxiliava-o na abordagem de casos mais difíceis.
Criador da técnica do joelhaço, uma técnica no entanto, bastante heterodoxa, a depender do ponto de vista e que ele usa infalivelmente para as angústias existenciais. Ela está baseada no princípio da dor maior, isto é, quando o paciente vem se queixar de suas dores subjetivas, o joelhaço aplicado no local correto oferece ao sujeito a vivência de uma dor tão mais intensa que faz com que se esqueça das dores "menores". Mania de perseguição, segundo ele, sempre foi pura frescura e para frigidez feminina, a receita era um bom amasso com o analista e , de preferência, no aconchego do pelejo. Com seu humor cáustico, o analista trata os males da alma "como quem amansa cavalo chucro", conquistando seus leitores no laço. Impossível resistir ao seu charme. E para quem sofre de stress ou "problemas de nervos" e vive por ai dando xilique "mais nervoso que gato em dia de faxina", ou então, que se meteu em um causo "mais enrolado que linguiça de venda", ou ainda, que anda choramingando pelos cantos "más triste que tia em baile", ja dizia o sábio analista de Bagé, "se abanque, índio velho. A sessão está apenas começando."
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"Contam que outra vez um casal pediu para consultar, juntos, o analista de Bagé. Ele, a princípio, não achou muito ortodoxo. - Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira... Mas acabou concordando. - Se abanquem, se abanquem no más. Mas que parelha buenacha, tchê.Qual é o causo? - Bem - disse o home - é que nós tivemos um desentendimento... - Mas tu também é um bagual. Tu não sabe que em mulher e cavalo novo não se mete a espora? - Eu não meti a espora. Não é, meu bem? - Não fala comigo! - Mas essa aí tá mais nervosa que gato em dia de faxina. - Ela tem um problema de carência afetiva... - Eu não sou de muita frescura. Lá de onde eu venho, carência afetiva é falta de homem. - Nós estamos justamente atravessando uma crise de relacionamento porque ela tem procurado experiências extra-conjugais e... - Epa. Opa. Quer dizer que a negra velha é que nem luva de maquinista? Tão folgada que qualquer um bota a mão? - Nós somos pessoas modernas. Ela está tentando encontrar o verdadeiro eu, entende? - Ela tá procurando o verdadeiro tu nos outros? - O verdadeiro eu, não. O verdadeiro eu dela. - Mais isto tá ficando mais enrolado que lingüiça de venda. Te deita no pelego. - Eu? - Ela. Tu espera na salinha."


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