A LOUCA

Augusto dos Anjos é simplesmente inexplicável. Sua obra "Eu e outras poesias" pode ser descrita assim :" Li o EU na adolescência e foi como se levasse um soco na cara." (Carlos Drummond de Andrade).

...É o autor das palavras "estranhas", tão esquisitas que cortam a alma...

"Augusto dos Anjos não teve sorte na vida: parecia a personificação de uma fase especialmente infeliz da evolução intelectual do Brasil, mistura incoerente de uma cultura ou simicultura bacharelesca, ávida de novíssimas novidades científicas, mal assimiladas, e dos ambientes das massas populares miseravelmente abandonadas nas ruas estreitas do Nordeste tropical. Niguém o compreendeu, niguém lhe leu os versos nos cafés do Rio de janeiro. Quem salvou a fama póstuma de Augusto dos Anjos foi seu povo, o do Nordeste e do interior do Brasil...Foram alguns poucos leitores dedicados que conseguiram reivindicar e restabelecer a verdadeira grandeza de Augusto dos Anjos: Álvaro Lins, Antonio Houaiss, Francisco de Assis Barbosa."

"Quando Augusto dos Anjos morreu, o céu da poesia brasileira estava escurecido como por trevas ao meio dia. Niguém o reconheceu. Hoje, a literatura brasileira parece, outra vez, escurecida por trevas. Mas quem sabe não se encontra, irreconhecido, entre nós - ou mesmo longe de nós - o grande poeta que sabe dizer como este povo sofre e lhe prever uma nova aurora." (Otto Matia Carpeaux)


...Nos versos abaixo, me vejo dançando loucamente...

A Louca



Quando ela passa: -- a veste desgrenhada,

O cabelo revolto em desalinho,

No seu olhar feroz eu adivinho

O mistério da dor que a traz penada.



Moça, tão moça e já desventurada;

Da desdita ferida pelo espinho,

Vai morta em vida assim pelo caminho,

No sudário da mágoa sepultada.



Eu sei a sua história. -- Em seu passado

Houve um drama d’amor misterioso

-- O segredo d’um peito torturado --



E hoje, para guardar a mágoa oculta,

Canta, soluça -- o coração saudoso,

Chora, gargalha, a desgraçada estulta.